Rio de Janeiro, 29 de julho de 2013.
A
JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2013
Domingos
de Gouveia Rodrigues
«Ide e fazei
discípulos entre todas as nações.»
(Mateus, 28,19)
Logo após terminar a peregrinação à Via Podiensis, foi muito emocionante para mim participar dos eventos que marcaram a JMJ 2013, no Rio de Janeiro. Os jovens deram uma demonstração de civilidade, educação, solidariedade e muita fé!
Num
encontro que reuniu milhões de pessoas, apertadas umas contra as outras, não se
viu uma única demonstração de irritação, de falta de educação e de violência.
As longas filas nos banheiros químicos foi a prova mais evidente de sua
paciência e educação. Seu comportamento nos transportes públicos uma grande
lição. Não se via qualquer consumo de álcool.
Foi
emocionante ver os jovens (e alguns não tão jovens) deitados ao longo de toda a
Avenida Atlântica e Praia de Copacabana, numa demonstração de fé e de muita
Humildade. Alguns grupos cantavam e dançavam com alegria e seu comportamento
simples, singelo, decente e, mesmo, ingênuo me fez acreditar que ainda há esperança de um mundo mais digno.
Fiquei pensando: se estes jovens se comportam assim, por que os outros não podem ser iguais a eles? É apenas uma questão de serem liderados por gente honesta e educados com valores cristãos, éticos e morais.
Fiquei pensando: se estes jovens se comportam assim, por que os outros não podem ser iguais a eles? É apenas uma questão de serem liderados por gente honesta e educados com valores cristãos, éticos e morais.
A
juventude católica mostrou ao mundo que há Esperança num mundo melhor!
O
Papa Francisco mostrou humildade e muita sabedoria em seu comportamento e em
suas palavras! O Papa é um homem sábio!
A
Humanidade passa por um momento caracterizado por materialismo, consumismo, falta
de espiritualidade e falta de valores éticos e morais.
O
Papa Francisco nos mostrou que pode ser o farol espiritual que leve a
Humanidade para um local de solidariedade, amor e fraternidade.
Constantemente
os jovens gritavam: “Nós somos a juventude do Papa!”
Falta
um pouco de humildade a muitos membros da Igreja Católica, principalmente em
sua alta cúpula, que precisa se aproximar do povo. Estava próximo do palco
principal da JMJ e os bispos chegavam para o evento. Ao passarem em meio ao
povo, muitos peregrinos se aproximavam deles e lhes dirigiam palavras
carinhosas. Eles foram incapazes de sequer olhar para eles! Responder-lhes, nem
pensar! Fiquei chocado com aquelas imagens que contrastavam totalmente com as
atitudes do Papa Francisco!
A
Igreja Católica tem no Papa Francisco um líder verdadeiro, que conhece os
problemas fundamentais da Humanidade e da Igreja. Muitas pessoas estão ávidas
por espiritualidade e por valores morais. Este é o momento de haver o encontro
entre a Igreja e o povo.
Frases
do Papa Francisco
“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais
precioso recebi: Jesus Cristo.”
"Deus é brasileiro e vocês queriam um papa?
"
"Queria bater em cada porta, dizer 'bom dia', pedir um copo de água, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça."
"Estou fazendo como você falou: não estou respeitando as regras e fazendo a maior bagunça."
"Não é deixando livre o uso das drogas que se
conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química."
"Saiam às ruas como fez Jesus."
"Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo!"
"O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade."
"A igreja sabe ainda ser lenta no tempo para ouvir, na paciência para costurar novamente e reconstruir? Ou a própria igreja já se deixa arrastar pelo frenesi da eficiência?"
"Não há lugar para o idoso, nem para o filho
indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada.
Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois
dogmas modernos: eficiência e pragmatismo."
"Candelária, nunca mais. Violência, nunca
mais, só amor."
"Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química."
"Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam
às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos
de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se
converte em uma ONG. A igreja não pode ser uma ONG."
”Tudo aquilo que se compartilha , se multiplica!”
“Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança.”
“Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la?”
“A mulher na Igreja é mais importante que os bispos e os padres. Acredito que falta uma especificação teológica.”
“Os divorciados podem fazer a comunhão. Não na segunda união. Este problema deve ser estudado pela pastoral matrimonial.”
“A Igreja é feminina porque é esposa e mãe.”
“Uma Igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria.”
“Nossa Senhora é mais importante que os apóstolos.”
“É corajosa a vida dos brasileiros. Tem um grande coração, esse povo!”
“Peço a Nossa Senhora que reze por mim.”
“Nenhum esforço de pacificação será duradouro numa sociedade que deixa à margem, que abandona na periferia, parte de si mesma.”
“É preciso enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo mais justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro.”
“Somos responsáveis pela formação das novas gerações, de capacitá-las na economia e na política, e nos valores éticos. O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política.”
“O cristianismo uma transcendência e encarnação, pela capacidade de revitalizar o pensamento e a vida, frente à desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para a rua.”
"Hoje, eu quis vir aqui para
suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e
colocar aos seus pés a vida do povo latinoamericano."
"A Igreja, quando busca
Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que
se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre
na esteira de Maria."
"Assim, de cara à Jornada
Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à
porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os
Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos
jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais
justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três
simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver
na alegria."
"Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água
fresca, beber um “cafezinho”, não um copo de cachaça, como a amigos de casa,
ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós…"
"E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar
para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra
frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda."
"Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito
para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas,
através do combate à fome e à miséria."
"A medida da grandeza de uma
sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem
outra coisa senão a sua pobreza!"
"Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem
fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de
uma felicidade que só Deus pode saciar."
"Procurem ser vocês os primeiros a praticar o
bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo."
"Ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar
algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida."
"Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no
nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para
derrotá-la e nos salvar. Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua
imensa misericórdia."
"Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por
este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e
amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma
palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas
pessoas e lhes estender a mão."
"É assim também na nossa
vida, queridos jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude,
como vocês mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês:
“bote fé” e a vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção;
“bote esperança” e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não
será escuro, mas luminoso; “bote amor” e a sua existência será como uma casa
construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos
amigos que caminham com você. “Bote fé”, “bote esperança”, “bote amor!"
"É verdade, o ter, o dinheiro,
o poder podem gerar um momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas, no
fim de contas, são eles que nos possuem e nos levam a querer ter sempre mais, a
nunca estar saciados. “Bote Cristo” na sua vida, deposite
n’Ele a sua confiança e você nunca se decepcionará! Vejam, queridos amigos, a
fé realiza na nossa vida uma revolução que podíamos chamar copernicana, porque
nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no seu amor que nos dá
segurança, força, esperança."
"(...)não
estaria o Senhor querendo dizer-nos que o verdadeiro Campo da Fé, o verdadeira
Campus Fidei, não é um lugar geográfico, mas somos nós?"
"(...)
pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa
ser um discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a
segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro
de obras."
"Hoje, à
luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três
palavras: Ide, sem medo, para servir."
"Não é verdade que, nesta voz que ressoou nos seus corações, vocês
sentiram a ternura do amor de Deus?"
"A Virgem Imaculada intercede por nós no Céu
como uma boa mãe que guarda dos seus filhos."
"Nunca tenham medo de ser generosos com
Cristo!"
"A
Missão Continental, tanto programática como paradigmática, exige gerar a
consciência de uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e
homens de boa vontade. O discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma
espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros.
Portanto, a Missão Continental implica pertença eclesial."
"A resposta às questões existenciais do homem de hoje,
especialmente das novas gerações, atendendo à sua linguagem, entranha uma
mudança fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistério e
da Doutrina Social da Igreja."
"Por
isso, gosto de dizer que a posição do discípulo missionário não é uma posição
de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias… incluindo as
da eternidade no encontro com Jesus Cristo. No anúncio evangélico, falar de
“periferias existenciais” descentraliza e, habitualmente, temos medo de sair do
centro. O discípulo-missionário é um descentrado: o centro é Jesus Cristo, que
convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais."
"É o “Deus próximo” do seu povo,
proximidade que chega ao máximo quando Ele encarna. É o Deus que sai ao
encontro do seu povo."
"A
proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro. A proximidade toma
forma de diálogo e cria uma cultura do encontro. Uma pedra de toque para aferir
a proximidade e a capacidade de encontro de uma pastoral é a homilia. Como são
as nossas homilias? Estão próximas do exemplo de Nosso Senhor, que “falava como
quem tem autoridade”, ou são meramente prescritivas, distantes,
abstratas?"
"Os Bispos devem ser Pastores, próximos das
pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos.
Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do
Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens
que não tenham “psicologia de príncipes”. Homens que não sejam ambiciosos e que
sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra. Homens capazes
de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o
mantém unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o
ameacem, mas sobretudo para cuidar da esperança: que haja sol e luz nos corações.
Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em seu povo."
"O serviço que vocês realizaram nestes dias me
lembrou da missão de São João Batista, que preparou o caminho para Jesus."
"Em vista disso eu peço que
vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim,
nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório
que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que
não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês,
jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E também
tenham a coragem de ser felizes!"
"Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro –
eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores
para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava."
"Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda
não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará
entender o caminho."
"Senhor,
o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?"
"Parto com a alma cheia de recordações
felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento, já começo a
sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração;
este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas
pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários."
"Muitos de vocês vieram como discípulos nesta
peregrinação; não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. "
"Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais,
valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu
Evangelho."
"Continuarei a nutrir uma
esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo
está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros
resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita!"
"O meu pensamento final,
minha última expressão das saudades, dirige-se a Nossa Senhora Aparecida.
Naquele amado Santuário, ajoelhei-me em prece pela humanidade inteira e, de
modo especial, por todos os brasileiros. Pedi a Maria que robusteça em vocês a
fé cristã, que é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros
países, tesouro de sua cultura, alento e força para construírem uma nova
humanidade na concórdia e na solidariedade."
Homilias do Papa Francisco
Viagem Apostólica ao Brasil
Homilia do Papa Francisco
Santuário Nacional de Aparecida
Quarta-feira, 24 de julho de 2013
Homilia do Papa Francisco
Santuário Nacional de Aparecida
Quarta-feira, 24 de julho de 2013
Venerados
irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!
Queridos irmãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada
brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha
eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para
confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para
suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e
colocar aos seus pés a vida do povo latinoamericano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste
Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do
Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um
fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro
com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo
sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar
a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de
Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu
justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos
romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da
Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro
discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que
me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria,
que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de
Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de
um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de
chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se
surpreender por Deus; viver na alegria.
1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma
cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por
um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de
morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap
12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas
nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que
sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem
trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe
de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus
caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança!
Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se
presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e
Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e
também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se
colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o
sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no
coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.
Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão
positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os
jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da
construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a
sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam
propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a
memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil,
podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade,
perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua
raiz mais profunda na fé cristã.
2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e
mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em
meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário
serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar
peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de
Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca
infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir
filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no
Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos
deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos
em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se
nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria,
aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de
amizade com Ele.
3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se
caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos
oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas
dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos
uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha
Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus
é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não
pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado
de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o
quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que
contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: «O discípulo sabe
que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”
(Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]:
Insegnamenti III/1 [2007], 861).
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de
Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos
pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos
a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas
surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.
Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Comunidade de Varginha – Rio de Janeiro
Quinta-feira, 25 de julho de 2013
Discurso do Papa Francisco
Comunidade de Varginha – Rio de Janeiro
Quinta-feira, 25 de julho de 2013
Queridos
irmãos e irmãs,
Que
bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita
ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta,
dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um “cafezinho”, não um
copo de cachaça, como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais,
dos filhos, dos avós… Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em
todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje
representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor,
generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade;
isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos
brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda
acolhida! Agradeço ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.
1.
Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui
junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer
enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma
pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa,
o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando
alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de
compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no
feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? sempre? E vocês fazem isto com
amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!
E povo brasileiro, sobretudo as pessoas
mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente
esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os
que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa
vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um
mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às
desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias
possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar
com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo,
que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um
mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; a cultura da
solidariedade. Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E
todos nós somos irmãos.
Quero encorajar os esforços que a
sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo,
incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à
miséria. Nenhum esforço
de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma
sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si
mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo
de essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de
compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se
multiplica! A medida da
grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais
necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!
2.
Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos
pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam
ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em
todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo
e de todo o homem. Queridos
amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça.
Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus
pode saciar. Fome de dignidade. Não existe verdadeira promoção do
bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os
pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida,
que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a
família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a
educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações
com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da
pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio
humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência
só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.
3.
Queria dizer uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens.
Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às
injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção,
com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio
benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem,
não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode
mudar, o homem pode mudar. Procurem
ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a
vencê-lo. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso
da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em
abundância» (Jo 10,10).
Hoje
a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero
dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com
vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês
carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda
nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento.
Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os
pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção. Obrigado.
Viagem Apostólica ao Brasil
Via Sacra com os jovens
Praia de Copacabana
Sexta-feira, 26 de julho de 2013
Queridos
jovens,
Viemos
hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é
um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo
da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens,
dizendo-lhes: «Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade
e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e
redenção» (Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamenti VII,1(1984),
1105). A partir de então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os
mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as
situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a Cruz de
Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para
sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que
ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz,
queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso
País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente,
o que esta Cruz ensina para a nossa vida?
1.
Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o Apóstolo Pedro, saindo da
cidade para fugir da perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na
direção oposta e, admirado, lhe perguntou: «Para onde vais, Senhor?». E a
resposta de Jesus foi: «Vou a Roma para ser crucificado outra vez». Naquele
momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas
entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava
aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a
sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos
problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se
une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os
inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por
dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas
de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que
passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela
Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente
pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança
nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé
na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do
Evangelho. Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso
também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as
nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com
você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo
3,16).
2.
E assim podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a Cruz deixou
naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós?
Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de
Deus por nós. Um amor tão
grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá
a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar.
Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia.
E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens,
confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen
fidei, 16)! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção.
Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos
dá a esperança e a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de
derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida. O primeiro nome dado ao Brasil
foi justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi plantada
não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e
na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo,
como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz,
pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.
3.
Mas a Cruz de Cristo
também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a
olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem
tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair
de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão.
Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cireneu,
Maria, as mulheres… Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que
não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus,
lavando-se as mãos. Queridos amigos, a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o
Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras
mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com
ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Queridos
jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos
para a Cruz de Cristo; encontraremos um Coração aberto que nos compreende,
perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada
irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!
Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Festa da Acolhida – Rio de Janeiro
Quinta-feira, 25 de julho de 2013
Discurso do Papa Francisco
Festa da Acolhida – Rio de Janeiro
Quinta-feira, 25 de julho de 2013
Jovens
amigos,
«É
bom estarmos aqui!»: exclamou Pedro, depois de ter visto o Senhor Jesus
transfigurado, revestido de glória. Queremos também nós repetir estas palavras?
Penso que sim, porque para todos nós, hoje, é bom estar aqui juntos unidos em
torno de Jesus! É Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a nós, aqui no
Rio. Mas, no Evangelho, escutamos também as palavras de Deus Pai: «Este é o meu
Filho, o Eleito. Escutai-O!» (Lc 9, 35). Então, se por um lado é Jesus quem nos
acolhe, por outro também nós devemos acolhê-lo, ficar à escuta da sua palavra,
pois é justamente acolhendo a Jesus Cristo, Palavra encarnada, que o Espírito
Santo nos transforma, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas
da esperança para caminharmos com alegria (cf. Carta enc. Lumen fidei, 7).
Mas
o que podemos fazer? “Bote fé”. A cruz da Jornada Mundial da Juventude
peregrinou através do Brasil inteiro com este apelo. “Bote fé”: o que
significa? Quando se prepara um bom prato e vê que falta o sal, você então
“bota” o sal; falta o azeite, então “bota” o azeite… “Botar”, ou seja, colocar,
derramar.
É assim também na nossa vida, queridos
jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês
mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: “bote fé” e a
vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; “bote
esperança” e todos os seus dias serão iluminados e o seu horizonte já não será
escuro, mas luminoso; “bote amor” e a sua existência será como uma casa
construída sobre a rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos
amigos que caminham com você. “Bote fé”, “bote esperança”, “bote amor!
Mas
quem pode nos dar tudo isso? No Evangelho, escutamos a resposta: Cristo. “Este
é o meu Filho, o Eleito. Escutai-O”! Jesus é Aquele que nos traz a Deus e que
nos leva a Deus; com Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e nós
podemos olhar a realidade com novos olhos, «a partir da perspectiva de Jesus e
com os seus olhos» (Carta enc. Lumen fidei, 18). Por isso, hoje, lhes digo com
força: “Bote Cristo” na sua vida, e você encontrará um amigo em quem sempre
confiar; “bote Cristo”, e você verá crescer as asas da esperança para percorrer
com alegria o caminho do futuro; “bote Cristo” e a sua vida ficará cheia do seu
amor, será uma vida fecunda.
Hoje,
queria que nos perguntássemos com sinceridade: em quem depositamos a nossa
confiança? Em nós mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo-nos tentados a
colocar a nós mesmos no centro, a crer que somos somente nós que construímos a
nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com o possuir, com o dinheiro,
com o poder. Mas não é assim! É
verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um momento de embriaguez, a
ilusão de ser feliz, mas, no fim de contas, são eles que nos possuem e nos
levam a querer ter sempre mais, a nunca estar saciados. “Bote Cristo” na sua vida,
deposite n’Ele a sua confiança e você nunca se decepcionará! Vejam, queridos
amigos, a fé realiza na nossa vida uma revolução que podíamos chamar
copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no
seu amor que nos dá segurança, força, esperança. Aparentemente não muda
nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda. No nosso coração, habita a
paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade e a alegria, que são os
frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22) e a nossa existência se transforma, o
nosso modo de pensar e agir se renova, torna-se o modo de pensar e de agir de
Jesus, de Deus. No Ano da Fé, esta Jornada Mundial da Juventude é justamente um
dom que nos é oferecido para ficarmos ainda mais perto de Jesus, para ser seus
discípulos e seus missionários, para deixar que Ele renove a nossa vida.
Querido
jovem: “bote Cristo” na sua vida. Nestes dias, Ele lhe espera na Palavra;
escute-O com atenção e o seu coração será inflamado pela sua presença; “Bote
Cristo”: Ele lhe acolhe no Sacramento do perdão, para curar, com a sua
misericórdia, as feridas do pecado. Não tenham medo de pedir perdão a Deus. Ele
nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que nos ama. Deus é pura
misericórdia! “Bote Cristo: Ele lhe espera no encontro com a sua Carne na
Eucaristia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de amor, e na
humanidade de tantos jovens que vão lhe enriquecer com a sua amizade, lhe
encorajar com o seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da caridade, da
bondade, do serviço. Você também, querido jovem, pode ser uma testemunha
jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a
este nosso mundo um pouco de luz.
“É
bom estarmos aqui”, botando Cristo na nossa vida, botando a fé, a esperança, o
amor que Ele nos dá. Queridos amigos, nesta celebração acolhemos a imagem de
Nossa Senhora Aparecida. Com Maria, queremos ser discípulos e missionários.
Como Ela, queremos dizer «sim» a Deus. Peçamos ao seu coração de mãe que interceda
por nós, para que os nossos corações estejam disponíveis para amar a Jesus e
fazê-lo amar. Ele está esperando por nós e conta conosco! Amém.
Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Vigília com os jovens na Praia de Copacabana
Sábado, 27 de julho de 2013
Discurso do Papa Francisco
Vigília com os jovens na Praia de Copacabana
Sábado, 27 de julho de 2013
Queridos
jovens,
Olhando
para vocês presentes aqui hoje, me vem a mente a história de São Francisco de
Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: «Francisco,
vai e repara a minha casa». E o jovem Francisco responde, com prontidão e
generosidade, a esta chamado do Senhor: repara a minha casa. Mas qual casa? Aos
poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício
feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja;
tratava-se de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que
transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.
Também
hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Querido
jovens, o Senhor necessita de você. Também hoje ele chama a cada um de vocês
para segui-lo na sua Igreja, para serem missionários. Queridos jovens, o Senhor
hoje os chama. Não a muitos, mas a você, a você, a você, a você… a cada um.
Escutem-no no coração.
Penso
que podemos aprender com o que aconteceu nesses dias. Como tivemos que
cancelar, devido ao mau tempo, a realização desta vigília no Campus Fidei
(Campo da Fé), em Guaratiba, não
estaria o Senhor querendo dizer-nos que o verdadeiro Campo da Fé, o verdadeira
Campus Fidei, não é um lugar geográfico, mas somos nós?
Sim,
é verdade. Cada um de nós, cada um de vocês, eu, vocês, todos, que ser
discípulos missionários significa reconhecer que somos Campos da Fé de Deus. Por
isso, a partir da imagem do Campo da Fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender
melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira, o campo como
lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a
terceira, o campo como canteiro de obras.
1.
O campo como lugar onde se
semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu
pelo campo lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às
pedras, no meio de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em
terra boa e dão muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da
parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf.
Mt 13,18-23). Queridos jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o
coração de cada um de vocês, é a vida de vocês. E é na vida de vocês que Jesus
pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença. Por favor, deixem que
Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam germinar e
crescer.
Jesus
nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em
meio aos espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou queremos ser? Quem
sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na vida não
muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos apelos superficiais que
escutamos; ou como o terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas
somos inconstantes e diante das dificuldades não temos a coragem de ir contra a
corrente; ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões
negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Mas, hoje,
tenho a certeza que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem
ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem “engomadinhos”,
nem cristãos de fachada, mas sim autênticos. Tenho a certeza que vocês não
querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as
conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas
definitivas que deem pleno sentido para a vida. Jesus é capaz de oferecer-lhes
isto. Ele é o «caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6)! Confiemos n’Ele.
Deixemo-nos guiar por Ele!
2.
O campo como lugar de
treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que
sejamos seus discípulos, que “joguemos no seu time”. Acho que a maioria de
vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é uma
paixão nacional. Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em
um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do
Senhor. São Paulo nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles
assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos
uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior
que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e
nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. Jesus,
porém, nos pede que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo,
todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé. Como? Através do diálogo
com Ele: a oração, que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através
dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com
Cristo; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar,
do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar
ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo”!
3.
O campo como canteiro de
obras. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de
Deus, quando se “sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós
experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma
família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais
ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. São
Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe
2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja,
construída com pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras
vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; e não como uma capelinha,
onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva
seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos!
Ele diz a mim, a você, a cada um: «Ide e fazei discípulos entre todas as
nações»! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, também eu quero ser uma pedra viva;
juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Digamos juntos: Eu quero ir e ser
construtor da Igreja de Cristo!
No
coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo melhor.
Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em tantas
partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização
mais justa e fraterna. Mas, fica a pergunta: Por onde começar? Quais são os
critérios para a construção de uma sociedade mais justa? Quando perguntaram a
Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja, ela respondeu: você e eu!
Queridos
amigos, não se esqueçam: Vocês são o campo da fé! Vocês são os atletas de
Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor.
Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo
com o seu “sim” a Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
tua Palavra» (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se
em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!
Homilia do Papa Francisco
Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude
Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
Queridos jovens!
«Ide e fazei discípulos entre todas as
nações». Com estas
palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar
nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos
quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência
aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje,
à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três
palavras: Ide, sem medo, para servir.
1.
Ide. Durante estes dias, aqui no Rio,
vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo
juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode
ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do
movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que
arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada,
transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo
é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).
Mas,
atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e
fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé,
testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a
Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou
de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para
junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu
a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não
nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não
somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de
amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
De
forma especial, queria que este mandato de Cristo -”Ide” – ressoasse em vocês,
jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental
promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo!
Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este
Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu
muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com
uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e
da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o
Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove
anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro
jovem! Este é o caminho a ser percorrido!
2.
Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho
nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»?
Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve
Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta.
Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito
novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não
tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
Além
disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos
jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos
nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes,
descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os
Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma
comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que
concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e
é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do
caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria,
ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam
sozinhos!
3.
A última palavra: para
servir.
No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus
um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma
melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique
com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas
ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.
São
Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos,
a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus,
Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente
o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir,
inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.
Ide,
sem medo, para servir.
Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite
a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas
casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu
Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o
poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr
1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus,
para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as
barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo.
Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês!
Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura:
«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.
Viagem Apostólica ao Brasil
Angelus com o Papa Francisco
Praia de Copacabana – Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
Angelus com o Papa Francisco
Praia de Copacabana – Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
Amados
irmãos e irmãs!
No
término desta Celebração Eucarística, com a qual elevamos a Deus o nosso canto
de louvor e gratidão por todas as graças recebidas durante esta Jornada Mundial
da Juventude, quero ainda agradecer a Dom Orani Tempesta e ao Cardeal Ryłko as
palavras que me dirigiram. Agradeço também a vocês, queridos jovens, por todas
as alegrias que me deram nestes dias. Levo a cada um de vocês no meu coração!
Dirijamos
agora o nosso olhar à Mãe do Céu, a Virgem Maria. Nestes dias, Jesus lhes repetiu
com insistência o convite para serem seus discípulos-missionários; vocês
escutaram a voz do Bom Pastor que lhes chamou pelo nome e vocês reconheceram a
voz que lhes chamava (cf. Jo 10,4). Não é verdade que, nesta voz que ressoou nos seus corações, vocês
sentiram a ternura do amor de Deus? Não é verdade que vocês
experimentaram a beleza de seguir a Cristo, juntos, na Igreja? Não é verdade
que vocês compreenderam melhor que o Evangelho é a resposta ao desejo de uma
vida ainda mais plena? (cf. Jo 10,10). É verdade?
A Virgem Imaculada intercede por nós no Céu
como uma boa mãe que guarda dos seus filhos. Maria nos ensina, com a sua existência, o que significa
ser discípulo missionário. Cada vez que rezamos o Ângelus, recordamos o
acontecimento que mudou para sempre a história dos homens. Quando o anjo
Gabriel anunciou a Maria que se tornaria a Mãe de Jesus, Ela – mesmo sem
compreender todo o significado daquele chamado – confiou em Deus e respondeu:
«Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
Mas, o que fez Maria logo em seguida? Após ter recebido a graça de ser a Mãe do
Verbo encarnado, não guardou para si esse dom; partiu, saiu da sua casa e foi,
apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda (cf. Lc 1,
38-39); cumpriu um gesto de amor, de caridade, de serviço concreto, levando
Jesus que trazia no ventre. E se apressou a fazer este gesto!
Eis
aqui, queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de
Deus, como primeiro gesto de resposta, põe-se a caminho para servir e levar
Jesus. Peçamos a Nossa Senhora que também nos ajude a transmitir a alegria de
Cristo aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a
todas as pessoas. Nunca
tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! Sair e ir com
coragem e generosidade, para que cada homem e cada mulher possa encontrar o
Senhor.
Queridos
jovens, temos encontro marcado na próxima Jornada Mundial da Juventude, no ano
de 2016 em Cracóvia, na Polônia. Pela intercessão materna de Maria, peçamos a
luz do Espírito Santo sobre o caminho que nos levará a esta nova etapa da
jubilosa celebração da fé e do amor de Cristo. [Oração do Angelus]
Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Encontro com os dirigentes do CELAM
Domingo, 29 de julho de 2013
1.
Introdução
Agradeço
ao Senhor por esta oportunidade de poder falar com vocês, Irmãos Bispos
responsáveis do CELAM no quadriênio 2011-2015. Há 57 anos que o CELAM serve as
22 Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe, colaborando solidária
e subsidiariamente para promover, incentivar e dinamizar a colegialidade
episcopal e a comunhão entre as Igrejas da Região e seus Pastores.
Como
vocês, também eu sou testemunha do forte impulso do Espírito na V Conferência
Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida no mês de maio
de 2007, que continua animando os trabalhos do CELAM para a anelada renovação
das Igrejas particulares. Em boa parte delas, essa renovação já está em
andamento. Gostaria de centrar esta conversação no patrimônio herdado daquele
encontro fraterno e que todos batizamos como Missão Continental.
2.
Características peculiares de Aparecida
Existem
quatro características típicas da referida V Conferência. Constituem como que quatro
colunas do desenvolvimento de Aparecida que lhe dão a sua originalidade.
1)
Início sem documento
Medelín,
Puebla e Santo Domingo começaram os seus trabalhos com um caminho preparatório
que culminou em uma espécie de Instrumentum laboris, com base no qual se
desenrolou a discussão, a reflexão e a aprovação do documento final. Em vez
disso, Aparecida promoveu a participação das Igrejas particulares como caminho
de preparação que culminou em um documento de síntese. Este documento, embora
tenha sido ponto de referência durante a V Conferência Geral, não foi assumido
como documento de partida. O trabalho inicial foi pôr em comum as preocupações
dos Pastores perante a mudança de época e a necessidade de recuperar a vida de
discípulo e missionário com que Cristo fundou a Igreja.
2)
Ambiente de oração com o Povo de Deus
É
importante lembrar o ambiente de oração gerado pela partilha diária da
Eucaristia e de outros momentos litúrgicos, tendo sido sempre acompanhados pelo
Povo de Deus. Além disso, realizando-se os trabalhos na cripta do Santuário, a
“música de fundo” que os acompanhava era constituída pelos cânticos e as
orações dos fiéis.
3)
Documento que se prolonga em compromisso, com a Missão Continental
Neste
contexto de oração e vivência de fé, surgiu o desejo de um novo Pentecostes
para a Igreja e o compromisso da Missão Continental. Aparecida não termina com
um documento, mas prolonga-se na Missão Continental.
4)
A presença de Nossa Senhora, Mãe da América
É
a primeira Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe que se
realiza em um Santuário mariano.
3.
Dimensões da Missão Continental
A
Missão Continental está projetada em duas dimensões: programática e
paradigmática. A missão programática, como o próprio nome indica, consiste na
realização de atos de índole missionária. A missão paradigmática, por sua vez,
implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas
particulares. Em consequência disso, evidentemente, verifica-se toda uma
dinâmica de reforma das estruturas eclesiais. A “mudança de estruturas” (de
caducas a novas) não é fruto de um estudo de organização do organograma
funcional eclesiástico, de que resultaria uma reorganização estática, mas é
consequência da dinâmica da missão. O que derruba as estruturas caducas, o que leva
a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade. Daqui a
importância da missão paradigmática.
A Missão Continental, tanto
programática como paradigmática, exige gerar a consciência de uma Igreja que se
organiza para servir a todos os batizados e homens de boa vontade. O discípulo
de Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma
pessoa em comunidade para se dar aos outros. Portanto, a Missão Continental
implica pertença eclesial.
Uma
posição como esta, que começa pelo discipulado missionário e implica entender a
identidade do cristão como pertença eclesial, pede que explicitemos quais são
os desafios vigentes da missionariedade discipular. Me limito a assinalar dois:
a renovação interna da Igreja e o diálogo com o mundo atual.
Renovação
interna da Igreja
Aparecida
propôs como necessária a Conversão Pastoral. Esta conversão implica acreditar
na Boa Nova, acreditar em Jesus Cristo portador do Reino de Deus, em sua
irrupção no mundo, em sua presença vitoriosa sobre o mal; acreditar na
assistência e guia do Espírito Santo; acreditar na Igreja, Corpo de Cristo e
prolongamento do dinamismo da Encarnação.
Neste
sentido, é necessário que nos interroguemos, como Pastores, sobre o andamento
das Igrejas a que presidimos. Estas perguntas servem de guia para examinar o
estado das dioceses quanto à adoção do espírito de Aparecida, e são perguntas
que é conveniente pôr-nos, muitas vezes, como exame de consciência.
1.
Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos presbíteros seja mais pastoral
que administrativo? Quem é o principal beneficiário do trabalho eclesial, a
Igreja como organização ou o Povo de Deus na sua totalidade?
2.
Superamos a tentação de tratar de forma reativa os problemas complexos que
surgem? Criamos um hábito proativo? Promovemos espaços e ocasiões para
manifestar a misericórdia de Deus? Estamos conscientes da responsabilidade de
repensar as atitudes pastorais e o funcionamento das estruturas eclesiais,
buscando o bem dos fiéis e da sociedade?
3.
Na prática, fazemos os fiéis leigos participantes da Missão? Oferecemos a
Palavra de Deus e os Sacramentos com consciência e convicção claras de que o
Espírito se manifesta neles?
4.
Temos como critério habitual o discernimento pastoral, servindo-nos dos
Conselhos Diocesanos? Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de
Assuntos Econômicos são espaços reais para a participação laical na consulta,
organização e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos é
determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso.
5.
Nós, Pastores Bispos e Presbíteros, temos consciência e convicção da missão dos
fiéis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acordo com o seu
processo de discípulos, a missão que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e
acompanhamos, superando qualquer tentação de manipulação ou indevida submissão?
Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da
Igreja e da sua Missão no mundo?
6.
Os agentes de pastoral e os fiéis em geral sentem-se parte da Igreja, identificam-se
com ela e aproximam-na dos batizados indiferentes e afastados?
Como
se pode ver, aqui estão em jogo atitudes. A Conversão Pastoral diz respeito,
principalmente, às atitudes e a uma reforma de vida. Uma mudança de atitudes é
necessariamente dinâmica: “entra em processo” e só é possível moderá-lo
acompanhando-o e discernindo-o. É importante ter sempre presente que a bússola,
para não se perder nesse caminho, é a identidade católica concebida como
pertença eclesial.
Diálogo
com o mundo atual
Faz-nos
bem lembrar estas palavras do Concílio Vaticano II: As alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo
dos pobres e atribulados, são também alegrias e esperanças, tristezas e
angústias dos discípulos de Cristo (cf. GS, 1). Aqui reside o fundamento do
diálogo com o mundo atual.
A resposta às questões existenciais do
homem de hoje, especialmente das novas gerações, atendendo à sua linguagem,
entranha uma mudança fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistério
e da Doutrina Social da Igreja.
Os cenários e areópagos são os mais variados. Por exemplo, em uma mesma cidade,
existem vários imaginários coletivos que configuram “diferentes cidades”. Se
continuarmos apenas com os parâmetros da “cultura de sempre”, fundamentalmente
uma cultura de base rural, o resultado acabará anulando a força do Espírito
Santo. Deus está em toda a parte: há que saber descobri-lo para poder
anunciá-lo no idioma dessa cultura; e cada realidade, cada idioma tem um ritmo
diferente.
4.
Algumas tentações contra o discipulado missionário
A
opção pela missionariedade do discípulo sofrerá tentações. É importante saber
por onde entra o espírito mau, para nos ajudar no discernimento. Não se trata
de sair à caça de demônios, mas simplesmente de lucidez e prudência
evangélicas. Limito-me a mencionar algumas atitudes que configuram uma Igreja
“tentada”. Trata-se de conhecer determinadas propostas atuais que podem
mimetizar-se em a dinâmica do discipulado missionário e deter, até fazê-lo fracassar,
o processo de Conversão Pastoral.
1.
A ideologização da
mensagem evangélica. É uma tentação que se verificou na Igreja desde o
início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica fora da própria
mensagem do Evangelho e fora da Igreja. Um exemplo: a dado momento, Aparecida
sofreu essa tentação sob a forma de assepsia. Foi usado, e está bem, o método
de “ver, julgar, agir” (cf. n.º 19). A tentação se encontraria em optar por um
“ver” totalmente asséptico, um “ver” neutro, o que não é viável. O ver está
sempre condicionado pelo olhar. Não há uma hermenêutica asséptica. Então a
pergunta era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respondeu: Com o
olhar de discípulo. Assim se entendem os números 20 a 32. Existem outras
maneiras de ideologização da mensagem e, atualmente, aparecem na América Latina
e no Caribe propostas desta índole. Menciono apenas algumas:
a)
O reducionismo
socializante. É a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns
momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em
uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais
variados, desde o liberalismo de mercado até à categorização marxista.
b)
A ideologização
psicológica. Trata-se de uma hermenêutica elitista que, em última
análise, reduz o “encontro com Jesus Cristo” e seu sucessivo desenvolvimento a
uma dinâmica de autoconhecimento. Costuma verificar-se principalmente em cursos
de espiritualidade, retiros espirituais, etc. Acaba por resultar numa posição
imanente auto-referencial. Não tem sabor de transcendência, nem portanto de
missionariedade.
c)
A proposta gnóstica.
Muito ligada à tentação anterior. Costuma ocorrer em grupos de elites com uma
proposta de espiritualidade superior, bastante desencarnada, que acaba por
desembocar em posições pastorais de “quaestiones disputatae”. Foi o primeiro
desvio da comunidade primitiva e reaparece, ao longo da história da Igreja, em
edições corrigidas e renovadas. Vulgarmente são denominados “católicos
iluminados” (por serem atualmente herdeiros do Iluminismo).
d)
A proposta pelagiana.
Aparece fundamentalmente sob a forma de restauracionismo. Perante os males da
Igreja, busca-se uma solução apenas na disciplina, na restauração de condutas e
formas superadas que, mesmo culturalmente, não possuem capacidade
significativa. Na América Latina, costuma verificar-se em pequenos grupos, em
algumas novas Congregações Religiosas, em tendências para a “segurança”
doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente é estática, embora possa prometer uma
dinâmica para dentro: regride. Procura “recuperar” o passado perdido.
2. O funcionalismo. A sua
ação na Igreja é paralisante. Mais do que com a rota, se entusiasma com o
“roteiro”. A concepção funcionalista não tolera o mistério, aposta na eficácia.
Reduz a realidade da Igreja à estrutura de uma ONG. O que vale é o resultado
palpável e as estatísticas. A partir disso, chega-se a todas as modalidades
empresariais de Igreja. Constitui uma espécie de “teologia da prosperidade” no
organograma da pastoral.
3.
O clericalismo é
também uma tentação muito atual na América Latina. Curiosamente, na maioria dos
casos, trata-se de uma cumplicidade viciosa: o sacerdote clericaliza e o leigo
lhe pede por favor que o clericalize, porque, no fundo, lhe resulta mais
cômodo. O fenômeno do clericalismo explica, em grande parte, a falta de
maturidade adulta e de liberdade cristã em boa parte do laicato da América
Latina: ou não cresce (a maioria), ou se abriga sob coberturas de
ideologizações como as indicadas, ou ainda em pertenças parciais e limitadas.
Em nossas terras, existe uma forma de liberdade laical através de experiências
de povo: o católico como povo. Aqui vê-se uma maior autonomia, geralmente
sadia, que se expressa fundamentalmente na piedade popular. O capítulo de Aparecida
sobre a piedade popular descreve, em profundidade, essa dimensão. A proposta
dos grupos bíblicos, das comunidades eclesiais de base e dos Conselhos
pastorais está na linha de superação do clericalismo e de um crescimento da
responsabilidade laical.
Poderíamos
continuar descrevendo outras tentações contra o discipulado missionário, mas
acho que estas são as mais importantes e com maior força neste momento da
América Latina e do Caribe.
5.
Algumas orientações eclesiológicas
1.
O discipulado-missionário que Aparecida propôs às Igrejas da América Latina e
do Caribe é o caminho que Deus quer para “hoje”. Toda a projeção utópica (para
o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito bom. Deus é real e se manifesta no
“hoje”. A sua presença, no passado, se nos oferece como “memória” da
saga de salvação realizada quer em seu povo quer em cada um de nós; no futuro,
se nos oferece como “promessa” e esperança. No passado, Deus esteve lá e deixou
sua marca: a memória nos ajuda encontrá-lo; no futuro, é apenas promessa… e não
está nos mil e um “futuríveis”. O “hoje” é o que mais se parece com a
eternidade; mais ainda: o “hoje” é uma centelha de eternidade. No “hoje”, se
joga a vida eterna.
O
discipulado missionário é vocação: chamada e convite. Acontece em um “hoje”,
mas “em tensão”. Não existe o discipulado missionário estático. O discípulo
missionário não pode possuir-se a si mesmo; a sua imanência está em tensão para
a transcendência do discipulado e para a transcendência da missão. Não admite a
auto-referencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se às pessoas a
quem deve levar o anúncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito projetado
para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discípulos) e o encontro
com os homens que esperam o anúncio.
Por isso, gosto de dizer que a posição
do discípulo missionário não é uma posição de centro, mas de periferias: vive
em tensão para as periferias…
incluindo as da eternidade no encontro com Jesus Cristo. No anúncio evangélico, falar de
“periferias existenciais” descentraliza e, habitualmente, temos medo de sair do
centro. O discípulo-missionário é um descentrado: o centro é Jesus Cristo, que
convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias existenciais.
2.
A Igreja é instituição, mas, quando se erige em “centro”, se funcionaliza e,
pouco a pouco, se transforma em uma ONG. Então, a Igreja pretende ter luz
própria e deixa de ser aquele “mysterium lunae” de que nos falavam os Santos
Padres. Torna-se cada vez mais auto-referencial, e se enfraquece a sua
necessidade de ser missionária. De “Instituição” se transforma em “Obra”. Deixa
de ser Esposa, para acabar sendo Administradora; de Servidora se transforma em
“Controladora”. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe, Servidora, facilitadora
da fé e não controladora da fé.
3.
Em Aparecida, verificam-se de forma relevante duas categorias pastorais, que
surgem da própria originalidade do Evangelho e nos podem também servir de
orientação para avaliar o modo como vivemos eclesialmente o discipulado missionário:
a proximidade e o encontro. Nenhuma das duas é nova, antes configuram a maneira
como Deus se revelou na história. É o “Deus próximo” do seu povo, proximidade que chega ao máximo quando
Ele encarna. É o Deus que sai ao encontro do seu povo. Na América Latina
e no Caribe, existem pastorais “distantes”, pastorais disciplinares que
privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais…
obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho. Ignora-se a “revolução da
ternura”, que provocou a encarnação do Verbo. Há pastorais posicionadas com tal
dose de distância que são incapazes de conseguir o encontro: encontro com Jesus
Cristo, encontro com os irmãos. Este tipo de pastoral pode, no máximo, prometer
uma dimensão de proselitismo, mas nunca chegam a conseguir inserção nem
pertença eclesial. A
proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro. A proximidade toma
forma de diálogo e cria uma cultura do encontro. Uma pedra de toque para aferir
a proximidade e a capacidade de encontro de uma pastoral é a homilia. Como são
as nossas homilias? Estão próximas do exemplo de Nosso Senhor, que “falava como
quem tem autoridade”, ou são meramente prescritivas, distantes, abstratas?
4.
Quem guia a pastoral, a Missão Continental (seja programática seja
paradigmática), é o Bispo. Ele deve guiar, que não é o mesmo que comandar. Além
de assinalar as grandes figuras do episcopado latino-americano que todos nós
conhecemos, gostaria de acrescentar aqui algumas linhas sobre o perfil do
Bispo, que já disse aos Núncios na reunião que tivemos em Roma. Os Bispos devem ser Pastores,
próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e
misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como
liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e
austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”. Homens
que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na
expectativa de outra. Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi
confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido: vigiar sobre o seu povo,
atento a eventuais perigos que o ameacem, mas sobretudo para cuidar da
esperança: que haja sol e luz nos corações. Homens capazes de sustentar com
amor e paciência os passos de Deus em seu povo. E o lugar onde o Bispo
pode estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no
meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para
evitar que alguém se desgarre mas também, e fundamentalmente, porque o próprio
rebanho tem o seu olfato para encontrar novos caminhos.
Não
quero juntar mais detalhes sobre a pessoa do Bispo, mas simplesmente
acrescentar, incluindo-me a mim mesmo nesta afirmação, que estamos um pouco
atrasados no que a Conversão Pastoral indica. Convém que nos ajudemos um pouco
mais a dar os passos que o Senhor quer que cumpramos neste “hoje” da América
Latina e do Caribe. E seria bom começar por aqui.
Agradeço-lhes
a paciência de me ouvirem. Desculpem a desordem do discurso e lhes peço, por
favor, para tomarmos a sério a nossa vocação de servidores do povo santo e fiel
de Deus, porque é nisso que se exerce e mostra a autoridade: na capacidade de
serviço. Muito obrigado!
Viagem Apostólica ao Brasil – JMJ 2013
Discurso do Papa Francisco
Rio Centro – Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
Queridos voluntários,Discurso do Papa Francisco
Rio Centro – Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013
boa tarde!
Não
podia regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso, a cada
um de vocês pelo trabalho e dedicação com que acompanharam, ajudaram, serviram
aos milhares de jovens peregrinos; pelos inúmeros pequenos detalhes que fizeram
desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé. Com os
sorrisos de cada um de vocês, com a gentileza, com a disponibilidade ao
serviço, vocês provaram que “há maior alegria em dar do que em receber” (At
20,35).
O serviço que vocês realizaram nestes
dias me lembrou da missão de São João Batista, que preparou o caminho para
Jesus. Cada um, a seu
modo, foi um instrumento para que milhares de jovens tivessem o “caminho
preparado” para encontrar Jesus. E esse é o serviço mais bonito que podemos
realizar como discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam
conhecer, encontrar e amar o Senhor. A vocês que, neste período, responderam
com tanta prontidão e generosidade ao chamado para ser voluntários na Jornada
Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e com os demais. Não se
perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe!
Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um:
descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção da
realização jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a
sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar
constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que
hoje o casamento está “fora de moda”; Está fora de moda? Na cultura do
provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento,
que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas,
“para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês
sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço
que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo,
crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes
de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por
vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E também tenham a coragem de
ser felizes!
O
Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para
amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais
na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos
vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais
necessitados. Nunca me
esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar
pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez
que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a
pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria!
Queridos jovens, talvez algum de vocês
ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe
fará entender o caminho.
Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que
o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote
Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10)
Peçam vocês também a Jesus: Senhor,
o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?
Caros
amigos, novamente lhes agradeço por tudo o que fizeram nestes dias. Agradeço às
pastorais, novas comunidades e movimentos que colocaram seus membros a serviço
desta jornada. Não se esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar
sempre com minhas orações, e sei que posso contar com as orações de vocês.
Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Cerimônia de despedida
Domingo, 28 de julho de 2013
Senhor
Vice- Presidente da República,
Distintas
Autoridade Nacionais, Estaduais e Locais,
Senhor
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Senhores
Cardeais e Irmãos no Episcopado,
Queridos
Amigos!
Dentro
de alguns instantes, deixarei sua Pátria para regressar a Roma. Parto com a alma cheia de
recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento,
já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de
grande coração; este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que
vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades
da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da
alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha. Tenho a certeza de que
Cristo vive e está realmente presente no agir de tantos e tantos jovens e
demais pessoas que encontrei nesta inesquecível semana. Obrigado pelo
acolhimento e o calor da amizade que me foram demonstrados. Também disso começo
a sentir saudades.
De
modo particular agradeço à Senhora Presidenta, por ter-se feito intérprete dos
sentimentos de todo o povo do Brasil para com o Sucessor de Pedro. Cordialmente
agradeço a meus Irmãos Bispos e seus inúmeros colaboradores por terem tornado
estes dias uma celebração estupenda da nossa fé fecunda e jubilosa em Jesus
Cristo. Agradeço a todos os que tomaram parte nas celebrações da Eucaristia e
nos restantes eventos, àqueles que os organizaram, a quantos trabalharam para
difundi-los através da mídia. Agradeço, enfim, a todas as pessoas que, de um
modo ou outro, souberam acudir às necessidades de acolhida e gestão de uma
multidão imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no silêncio e na
simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude fosse uma
verdadeira experiência de crescimento na fé. Que Deus recompense a todos, como
só Ele sabe fazer!
Neste
clima de gratidão e saudades, penso nos jovens, protagonistas desse grande
encontro: Deus lhes abençoe por tão belo testemunho de participação viva,
profunda e alegre nestes dias! Muitos de vocês vieram como discípulos nesta peregrinação; não tenho
dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do
testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do
amor. Mostrem com a vida
que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser
humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos
buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração
para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no
campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos
jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma
nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira;
outros rejubilarão com a rica colheita!
O meu pensamento final, minha última
expressão das saudades, dirige-se a Nossa Senhora Aparecida. Naquele amado
Santuário, ajoelhei-me em prece pela humanidade inteira e, de modo especial,
por todos os brasileiros. Pedi a Maria que robusteça em vocês a fé cristã, que
é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros países, tesouro
de sua cultura, alento e força para construírem uma nova humanidade na
concórdia e na solidariedade.
O
Papa vai embora e lhes diz “até breve”, um “até breve” com saudades, e lhes
pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele. Este Papa precisa da
oração de todos vocês. Um abraço para todos. Que Deus lhes abençoe!
*Destaque
no texto feito por nós.
http://papa.cancaonova.com